Condições de saúde mental e sua relação com as estratégias de enfrentamento e engajamento no trabalho entre policiais militares
Autor: Fernando Braga dos Santos (Currículo Lattes)
Resumo
Os policiais militares vivenciam, em sua prática laboral, circunstâncias que aumentam as exigências de habilidades emocionais. É esperado que zelem pela aplicação da lei e manutenção da ordem, além de estabelecer uma imagem positiva e harmônica com a comunidade. Em consequência, o exercício da atividade policial apresenta demandas de expressão e manejo das emoções que podem gerar repercussões no bem-estar, na saúde e na qualidade de vida dos policiais. Nesse contexto, este estudo teve como objetivo geral analisar as condições de saúde mental e sua relação com as estratégias de enfrentamento e engajamento no trabalho entre policiais militares, no período pré-pandemia. Trata-se de um estudo quantitativo, observacional, transversal, descritivo e correlacional, realizado com policiais militares do Comando de Policiamento do Interior - 5a Região do Estado de São Paulo (CPI-5/SP) e do 3 Batalhão de Polícia Militar do Estado do Paraná (3o BPM/PR). A coleta de dados foi realizada entre janeiro e dezembro de 2018. A amostra, composta por conveniência, incluiu 773 policiais militares, sendo 506 pertencentes aos Batalhões de Polícia Militar do CPI-5 do Estado de São Paulo e 267 do 3o Batalhão de Polícia Militar do Paraná. Os policiais responderam a um instrumento elaborado pelos pesquisadores, contendo variáveis sociodemográficas e profissionais, além das versões traduzidas e validadas no Brasil da Utrecht Work Engagement Scale (UWES), Escala Maslach Burnout Inventory (MBI) e Escala Modos de Enfrentamento de Problemas (EMEP). A análise estatística incluiu métodos descritivos e inferenciais, com a aplicação de testes de correlação de Pearson e análise de variância (ANOVA), utilizando um nível de significância de 95% (p0,05). A prevalência de estresse ocupacional foi de 30,2%, e não foram identificados casos de Síndrome de Burnout. No entanto, 23,8% dos policiais apresentaram altos níveis de exaustão emocional, e 45,9% mostraram despersonalização, preditores do burnout. O modelo multivariado indicou que jornadas de trabalho e problemas de saúde impactam o estresse ocupacional. Policiais paulistas apresentaram níveis significativamente mais altos de engajamento no trabalho em comparação aos do Paraná (p<0,001). Houve uma correlação negativa entre estresse ocupacional e engajamento no trabalho, sendo que os policiais com maiores níveis de estresse e burnout apresentaram escores menores de dedicação (4,6 ± 1,2), absorção (3,8 ± 1,2) e vigor (4,3 ± 1,2). A realização pessoal, que esteve positivamente correlacionada com o engajamento (r = 0,606, p < 0,001), destacou-se como um fator protetor contra burnout. Em relação às estratégias de enfrentamento, os policiais mostraram uma preferência por soluções práticas, com uma média elevada na abordagem focada na solução de problemas (3,7±0,6), enquanto a abordagem emocional foi a menos utilizada (2,3±0,6). Os resultados permitem concluir que o estresse ocupacional e o burnout representam desafios significativos à saúde mental dos policiais militares, interferindo negativamente nos níveis de engajamento no trabalho e nas estratégias de enfrentamento. A realização pessoal demonstrou ser um fator protetor, associada a maiores níveis de engajamento e estratégias de enfrentamento mais positivas. A tese foi comprovada, reforçando a necessidade de políticas institucionais voltadas para a saúde mental dos policiais, o que impacta positivamente na qualidade do serviço prestado à sociedade e na eficiência da segurança pública.